20 de setembro de 2011

O BAILE DE CECÍLIA

                

         Cecília era uma menina que adorava dançar. Nunca havia realmente ido a um baile, mas sonhava com aquele salão repleto de moças com laçarotes de cetim no cabelo e vestidos rodados. Na verdade, o que mais a fascinava era a imagem de vestidos de veludo, dançando esvoaçantes ao som da orquestra, revelando as anáguas de renda que se escondiam por debaixo do pano.
            Mas Cecília era ainda uma guria e jamais a deixariam entrar em um baile. Por enquanto, apenas sonhava...
            Em uma tarde de outubro, a menina chegou em casa com um sorriso de lado a lado e um convite irrecusável nas mãos: a sua escola iria fazer um baile de primavera e todas as crianças e seus pais estavam convidados! Parecia até um sonho, do qual ela não queria despertar. Enquanto rodopiava estonteante pela sala de sua casa, treinando os passos para o baile, percebeu que era tudo real!
            Passada tamanha excitação, enquanto seus batimentos voltavam ao normal, e sua cabeça parava de girar, Cecília foi tomada por uma tristeza. Um sentimento puro e verdadeiro, como quando uma criança descobre que não existe Papai Noel. Não era o caso da menina. A vida difícil, da qual fazia parte, nunca permitiu que ela acreditasse em Papai Noel. Apesar disso, ela sempre aceitou a dificuldade na qual seus pais viviam. Mas, dessa vez, tudo que ela queria era ter um vestido rodado! Ficou, então, imaginando que, sem o vestido rodopiando pelo salão, o baile jamais seria igual ao de sua fantasia...
            Chegado o dia do baile, Cecília já não demonstrava o mesmo sorriso alegre, apesar de o céu nunca ter antes visto tantas estrelas brilhando para ela. Vestindo o mesmo vestido lilás que usava para as missas de domingo, Cecília se agarrou nas mãos de sua mãe e as duas foram caminhando até a festa. A menina percorreu todo o trajeto de olhos tristonhos, imaginando que ninguém jamais veria a anágua que escondia embaixo daquele simples vestido, que não rodava.
            De repente, Cecília sentiu algo invadir novamente a sua alma de sonhos: era a melodia da orquestra que roubava o silêncio das ruas! Soltando a mão protetora de sua mãe, a menina correu para o salão. Os balões coloridos, que camuflavam as paredes frias do ginásio da escola, e as violetas da cor de seu vestido, que ornamentavam tão delicadamente as mesas, a fizeram esquecer o quanto o seu vestido não rodava. A menina, então, se deixou levar pelo som irresistível dos instrumentos e, enquanto dançava pelo salão, namorava os outros vestidos que rodavam à sua volta.
            Ao longe, uma senhora observava aquela cena – via a alegria tão evidente e singela de uma menina que dançava o seu primeiro baile. Já aposentada, a professora era rica de viuvez, mas tão pobre de alma, como Cecília de vestidos rodados. Os anos fizeram-na esquecer seus sonhos, deixando apenas a amargura da vivência. A senhora compareceu ao baile ao qual foi convidada, como mandava a etiqueta, mas já estava de saída.
            Ao passar ao lado de Cecília, num ato distraído, esbarrou na menina que rodopiava, mas ela não parou de dançar. O simples esbarrão entre as duas despertou para um mundo de sentimentos a senhora, que estava em estado de dormência por tanto tempo. Lembrou-se de quando era guria e também sonhava com os vestidos rodados em bailes de gala. Hoje, ela usava um de seus tantos vestidos de festa, mas não havia sequer lhe dado uma chance de rodar. Envolta por aquela inocência infantil, permaneceu onde estava e começou a dançar. Enquanto rodopiava a uma velocidade bem mais lenta que a de Cecília, a senhora observava, com olhos de menina, os balões coloridos que giravam ao seu redor. Só agora ela havia notado como o colégio estava enfeitado!
            As duas meninas dançaram e permaneceram assim até a última nota silenciar.
            Era, ainda, o primeiro de muitos bailes de Cecília. Para a senhora, foi o último. Mas nenhuma das duas jamais esqueceu aquele baile, nem a imagem de Cecília dançando tão feliz, com seu vestido que não sabia rodar.

22 de março de 2011

Sobre a Liberdade

Amarelinho era um lindo canário da terra que pertencia ao pequeno Thomas.
O menino sardento e de cabelos amarelos adorava exibir o seu passarinho, o qual mantinha em uma bela gaiola esculpida em madeira. Todo dia, Thomas alimentava Amarelinho e, na presença de outras pessoas, oferecia manifestações de carinho ao seu bichinho, através da gaiola, como se fora seu melhor amigo. Em troca, o canarinho lhe presenteava com a sua cantoria de calouro, a maior parte de sua pequena existência.
A gaiola repousava na varanda de uma enorme casa, rodeada de folhas verdes. Uma brisa calma fazia parte do cenário, balançando levemente o cativeiro de Amarelinho, como uma suave carícia. Outros passarinhos, que voavam livres pelo jardim, prestavam diariamente uma visita àquele canário aprisionado. Ali, ele tinha tudo o que precisava, mas não era completamente feliz.
Assim, um belo dia, em um pequeno momento de descuido de Thomas, num ato rotineiro de limpeza da gaiola, Amarelinho escapou e voou bem alto, como tanto apenas havia sonhado voar.
Em seu passeio livre, avistou muitos outros jardins floridos, pousou em árvores repletas de frutos deliciosos, conheceu muitos outros passarinhos que lhe contaram histórias incríveis, com gosto de liberdade.
Após sentir em suas asas o poder de ser livre, finalmente sentiu vontade de voltar para Thomas e sua casa familiar. E voltou.
Enquanto se preparava para pousar no jardim, avistou a sua gaiola que lhe aguardava vazia. Percebeu que não queria ser um passarinho liberto, queria apenas poder optar por ficar, mas sem a gaiola para aprisioná-lo.
Thomas ficou feliz em rever Amarelinho, mas o pássaro solto, para ele, não tinha o mesmo valor.
Dias depois, o canarinho observou o menino sardento brincando com um novo pássaro, o qual preenchia a gaiola que antes fora seu cativeiro. Thomas exibia o bichinho para seus amigos, acariciando-o pelas grades que o prendiam, como se fora um troféu. Amarelinho então percebeu que, a não ser pelos cabelos amarelos que enfeitavam a cabeça dos dois, não havia nenhuma semelhança entre ele e seu antigo amigo.
Para Thomas, o importante era a gaiola.

Pensamentos Livres

   E U S    P  E  N   S                                                                         I  V  R  S  
M                               A                                                                  L               
                                          M                                                                            
                                             E                                              M            B  I  T  A  R
        E M     B  U  S  C   A                      N                                  A             A           
                                    D                    T                        O              H         
                                        E                     O             V                            
                                              L                    S                         A                
                                                  I                                        R
                                                      V                               A                          
                                                           R                     P
                                                                O    S        
                                                                   
                                                        
M A S   S E   S Ã O   L I V R E S,   P A R A   Q U E   P R E N D Ê-L O S?

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21 de março de 2011

Insaciável..!

Eu quero a vida!
Amar intensamente...
Quero sentir o sol reluzente e a brisa do mar...
Quero abraçar o vento que escapa pelos meus dedos...
Eu quero flutuar no céu de anil
E me afogar nas águas de março...
Eu quero a saudade de um abraço!
Eu quero chorar... morrer de amor!
Eu quero a folia do Carnaval!
Eu quero dançar e cantar...
Eu quero ficar só e, ao mesmo tempo, ficar junto o tempo todo...
Eu quero a inocência juvenil
Eu quero a malícia de mulher!
Eu quero todas as palavras e o silêncio nas entrelinhas...
Eu quero os devaneios do poeta e o exagero do artista!
Eu quero a boca embriagada de vinho!
Eu quero uma palavra de carinho...
Eu quero um beijo de tirar o fôlego!
Eu quero a melancolia de domingo...
Eu quero todas as incertezas e a certeza do eterno...
Eu quero os desencontros da noite!
Eu quero o acaso perdido na esquina...
Eu quero um amor que perdure no tempo...
Eu quero a gula, a luxúria e a preguiça...
Eu quero tudo, o tempo todo!
Eu quero sempre mais...
Eu quero a vontade insaciável de viver...
...a vida!

12 de março de 2011

Saindo da Inércia

Hoje eu resolvi sair da inércia! O despertador tocou cedo. Vou levantar, tomar um bom café da manhã e vou para a academia. Faz tanto tempo que eu não apareço lá que toda semana alguém me liga perguntando se aconteceu alguma coisa. Depois, volto pra casa, me arrumo, almoço aquela saladinha verde, pego o ônibus até a Biblioteca Nacional e finalmente retomo os meus estudos! Quando acabar de estudar, vou me matricular no curso de fotografia lá no Jardim Botânico e à noite eu começo a minha aula de canto! Pronto. Tudo certo. Então, daqui a pouco eu levanto. Só mais 5 minutinhos...
Ai, meu Deus! Dormi demais! Tudo bem, eu pulo a academia. Ainda dá tempo de fazer todo o resto. Maria, o que tem pra almoçar? Macarronada? Nem uma saladinha...? Ok. Eu to com muita fome mesmo e macarrão é bom pra dar energia. Bom, agora é só pegar a minha chave e... ah, não! Ta chovendo?!? Poxa, logo hoje... o ônibus vai demorar muito pra passar, a biblioteca vai estar lotada... Está bem. Eu estudo em casa mesmo. Mas primeiro vou descansar um pouco pra não dar uma indigestão...
Nossa! Dormi demais... mas com essa chuvinha... Acho que o Jardim Botânico já deve estar alagado. Será que eu vou pra aula de canto mais tarde? Hum, acho melhor não. Essa friagem não faz bem pra voz! Bom, então vou ligar pra Tia Neide lá do interior que faz um tempão que eu não falo com ela. Ih, está começando aquele programa na TV que eu adoro! Tudo bem... só hoje então! Mas amanhã eu prometo que começo tudo! Ah, não! Amanhã é feriado! Ok. Mas depois de amanhã...



Nota da autora: Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência...

11 de março de 2011

Nota sobre a Autora

Sou artista por mero prazer! E acredito em todas as formas de arte. Sou apaixonada por música – adoro dançar e cantar! Talvez pelo meu tolo medo da solidão – com a música, nunca me sinto sozinha. Aos 7 anos comecei a escrever poemas – palavras bobas rabiscadas em linhas sobre qualquer coisa ao meu redor. Mas como diria o poeta gaúcho: “às vezes a gente pensa que está dizendo bobagem e está fazendo poesia.” Mesmo que apenas resquícios da minha memória ou devaneios de uma imaginação fértil, escrevo com o meu coração. Já os momentos mais importantes da minha vida eu prefiro guardar em fotos, pois a fotografia tem o poder de eternizar um efêmero segundo do mundo, seja um olhar distraído, uma borboleta recostada numa flor, ou o sorriso encantador de uma criança. Uma foto nunca mente: é apenas uma das muitas versões da verdade. E se a arte possui formas variadas, as vertentes da realidade são infinitas...